O Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, enfrenta um paradoxo inquietante: apesar de sua vasta produção de alimentos, o país ainda está no Mapa da Fome da ONU em 2025.
Desde 2014, quando o Brasil saiu do Mapa da Fome pela primeira vez, o cenário mudou significativamente. Embora o desemprego tenha diminuído nos últimos anos, os preços dos alimentos continuam a subir, superando os aumentos salariais.
Essa discrepância tem levado muitas famílias a enfrentar dificuldades para adquirir alimentos suficientes, mesmo com as prateleiras cheias nos mercados.
Por que a fome persiste no Brasil?
Especialistas apontam que a fome no Brasil não é uma questão de falta de alimentos, mas sim de acesso econômico a eles. A produção agropecuária, voltada em grande parte para a exportação, não garante que todos os brasileiros tenham acesso a uma dieta equilibrada. Além disso, as mudanças climáticas representam um risco crescente para o abastecimento alimentar.
O aumento dos preços dos alimentos, impulsionado pela inflação, tem afetado principalmente as famílias de baixa renda. Entre 2014 e 2024, enquanto os salários aumentaram apenas 5% em termos reais, os preços dos alimentos subiram 116,7%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Como o modelo produtivo impacta a segurança alimentar?
A produção agrícola no Brasil é dominada por commodities como soja e milho, que são principalmente exportadas. Isso levanta preocupações sobre a segurança alimentar interna, uma vez que esses grãos não compõem a base da dieta brasileira.
Embora a eficiência na produção de arroz e feijão tenha melhorado, garantindo a demanda atual, há um chamado para reequilibrar essa cadeia produtiva.
Investimentos públicos no plantio de alimentos básicos são vistos como essenciais para garantir a segurança alimentar futura e estabilizar os preços.
Desafios dos desertos alimentares
Além das questões econômicas e produtivas, o Brasil enfrenta o desafio dos “desertos alimentares” — regiões com pouca ou nenhuma oferta de alimentos frescos. Em 2025, cerca de 25 milhões de brasileiros vivem nessas áreas, onde o acesso a uma alimentação saudável é limitado.
A agricultura familiar, responsável por uma grande parte da produção de hortaliças no Brasil, é vista como uma solução potencial para esses desertos alimentares.
O Brasil pode sair do mapa da fome?
O governo federal estabeleceu a meta de sair do Mapa da Fome da ONU até 2026. Para isso, políticas como o relançamento do Bolsa Família e o fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) têm sido implementadas.
Esses programas visam aumentar a renda das famílias e melhorar o acesso a alimentos. No entanto, para alcançar essa meta, será necessário um esforço coordenado para incluir as pessoas mais vulneráveis nas políticas públicas.
A ampliação do Cadastro Único e a busca ativa por aqueles que ainda não estão incluídos são passos fundamentais para garantir que todos os brasileiros tenham acesso a uma alimentação adequada.