Atualmente, o clima está propício à propagação do fogo, mas, para que os incêndios comecem, é preciso haver intenção incendiária, segundo especialistas no assunto. Por mais adverso que esteja o clima, mesmo sob seca e calor intensos, fontes acidentais, como bitucas de cigarro, cacos de vidro, latinhas e até mesmo lupas não têm qualquer relevância nas queimadas que dizimam a fauna e a flora e sufocam todo o Brasil.
“As mudanças climáticas acentuam o problema, essa é a má notícia. A boa é que está inteiramente nas mãos do ser humano resolver o problema. É muito conveniente colocar a conta na mão do clima. Se estamos nessa situação é porque tem gente ateando fogo“, disse Karla Longo, especialista em queimadas e transporte de poluentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em entrevista concedida ao jornal O Globo.
Já o especialista em ecologia do fogo Christian Berlinck, do ICMBio, destaca que para começar um incêndio é preciso que haja uma fonte de calor de aproximadamente 300°C. No entanto, em medições de temperaturas de cigarros, por exemplo, poucos ultrapassaram 150°C, a grande maioria não chega a 100°C.
Ação humana tem ligação direta com os incêndios
Segundo um estudo elaborado pelo grupo de Berlinck, um em cada 100 cigarros alcança temperatura suficiente para iniciar um foco de fogo, ainda que pequeno. O mesmo acontece com cacos de vidro ou reflexos de latas. Em experimentos, nenhum deles atingiu mais de 100°C.
“É muito difícil um incêndio começar com um cigarro. A grande maioria, tendendo a 100%, é causada por um isqueiro ou fósforo e alimentada por querosene ou gasolina, alguém que quis atear fogo com vontade. E definitivamente não existe incêndio natural em período seco no Brasil porque não há raios“, ressalta Berlinck.
Pessoas estão se aproveitando das chamas
“Há gente se aproveitando“, diz Karla. Ela acrescenta que, ano a ano, as queimadas continuam a se repetir e as pessoas tratam como se fosse algo esporádico. “Estamos nessa situação porque há gente se aproveitando do clima propício aos incêndios para colocar fogo no Brasil. As queimadas deste ano não surpreendem nesse sentido. O Brasil sofre historicamente com fogo proposital e nada fez para combatê-lo“, disse ela.
Podemos pegar como exemplo a Amazônia, onde os incêndios ocorrem, na maioria das vezes, em áreas desmatadas e que gora são “limpas” de troncos e galhos, para grilagem ou expansão ilegal de propriedades rurais Há, também, fogo colocado para burlar a fiscalização de extração ilegal de madeira. Nos outros biomas, quando não são ilegais, são imorais.
Vale lembrar que, historicamente, o fogo também é usado para manejo de plantações e pastagens, bem como a queima de lixo. Não só é a forma mais barata, como a mais simples. No entanto, com o clima cada vez mais quente, cientistas, em vão, alertam há anos que essas práticas se tornam inviáveis nos períodos secos, quando o fogo facilmente sai de controle.