Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por indicar o economista Gabriel Galípolo para substituir Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (BC). Nos dias de hoje, Galípolo trabalha como diretor de Política Monetária na autarquia brasileira e sua nomeação precisa ser aprovada pelo Senado Federal. Em caso positivo, será o chefe do BC entre 2025 e 2028.
Considerado pelos especialistas como heterodoxo moderado, o mercado financeiro não vê no economista alguém da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT), mas sim alguém bastante preparado para servir de ponte entre o mercado e o governo Lula.
Primeiro contato
Em 2022, antes do lançamento da campanha presidencial de Lula ao Planalto começar, Galípolo chamou a atenção ao fazer parte de um jantar com empresários na companhia de Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidente do PT. A ocasião, organizada pelo grupo Esfera Brasil, reuniu uma série de pessoas renomadas do ramo empresarial e mercado financeiro, como André Esteves (BTG Pactual) e Abílio Diniz (Grupo Península) — este último faleceu no dia 18 de fevereiro deste ano, em decorrência de uma insuficiência respiratória.
No evento, o economista já era bem visto como um possível nome capaz de promover uma integração entre o então candidato ao cargo de chefe do Executivo e o mercado. Ao que tudo indica, sua posição heterodoxa em relação à economia e passagem pelo mercado financeiro são consideradas como um fator importante de ponderação na interlocução da atual gestão com o empresariado. Sua capacidade de diálogo e convencimento são características notáveis, ressaltadas por quem o conhece.
O perfil “fora da caixinha” de Galípolo também chama a atenção de ortodoxos de forma geral. Neste sentido, defende conceitos econômicos desenvolvimentistas, como o apoio do Estado na industrialização e a crítica ao teto de gastos. Por outro lado, rejeita a oposição de políticas públicas ao setor privado, optando por concessões, parcerias público-privadas (PPPs) ou mesmo privatizações a depender do caso.
Apesar de não ter nenhum tipo de ligação com o PT, teve relações com o partido há mais de 10 anos, quando ajudou, em 2010, na construção do plano de governo de Aloizio Mercadante, atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Funções exercidas
Como braço direito de Fernando Haddad, responsável pela Fazenda, Galípolo teve a dura missão de administrar um rombo inicial de aproximadamente R$ 300 bilhões nos cofres públicos e acomodar uma demanda crescente por políticas públicas e promessas de programas sociais feitas na campanha.
Pouco tempo depois de ter assumido o cargo de secretário executivo do Ministério da Fazenda do terceiro mandato de Lula, o economista deixou a função para integrar a diretoria do BC, por indicação de Haddad. A sua estreia no Comitê de Política Monetária (Copom) “coincidiu” com a primeira queda da Selic (taxa básica de juros) desde o ciclo de alta, em março de 2021.
Na autarquia, Galípolo superou o ceticismo de agentes do mercado quanto ao seu nível de autonomia em relação ao Palácio do Planalto, mas também foi responsável por protagonizar um dos momentos mais tensos no BC, durante a reunião do Copom em maio.
Na ocasião, a votação dividida pela redução da Selic em 0,25 ponto percentual (de 10,75% para 10,50%) gerou atritos entre os investidores, com membros indicados pelo governo anterior, de Jair Messias Bolsonaro (PL), votando pela posição vitoriosa, e nomeados por Lula defendendo um corte mais forte, de 0,50%. O episódio exigiu uma série de sinalizações posteriores de unidade dos integrantes da autoridade monetária para superar o caso.
Nos últimos meses, Galípolo se tornou o principal favorito para assumir a presidência do BC a partir do próximo ano. Inclusive, o economista já atuava como “mensageiro” do Copom ao lado de Campos Neto, fazendo comentários sobre a política monetária do BC.