A chegada da inteligência artificial (IA) à rotina dos escritórios de advocacia tem sido marcante. Ferramentas avançadas vêm revolucionando a forma como as demandas são tratadas, promovendo um avanço notável em produtividade e eficiência. Mas, enquanto algumas bancas surfam essa onda e crescem exponencialmente, outras enfrentam reduções de força de trabalho — um cenário simultaneamente promissor e desafiador.
Escritórios de médio porte que apostaram cedo na digitalização estão se transformando em verdadeiras “fábricas de software jurídico”, criando soluções internas e fundando legaltechs para atender clientes com vantagens competitivas. Em muitos casos, a adoção da IA permitiu reduzir drasticamente o número de advogados, mantendo ou até ampliando a capacidade de atuação em centenas de processos.
Grandes bancas também entraram na corrida tecnológica, investindo milhões para desenvolver plataformas próprias de IA que automatizam tarefas repetitivas e analisam grandes volumes de dados com rapidez. Essas inovações têm permitido que escritórios tradicionais escalem operações com mais celeridade, mantendo qualidade e consistência.
A IA é utilizada para vasculhar decisões judiciais, compilar precedentes, redigir peças jurídicas, seguir padrões de linguagem e até analisar o perfil de advogados da parte contrária. Essas funções antes feitas manualmente agora estão sob automação inteligente — liberando profissionais para tarefas mais estratégicas e complexas.
Apesar dessas vantagens, o avanço tecnológico trouxe preocupações. Muitos advogados já começaram a sentir queda na geração de trabalho, com alguns firmando etapas ou reduzindo contratações. Em contrapartida, surgem outras oportunidades, como novas funções híbridas entre Direito e tecnologia — profissões como engenheiro jurídico ou tecnólogo legal devem ganhar corpo no mercado.
Profissionais que se destacam são aqueles que vão além do conhecimento técnico em leis: precisam apresentar visão de inovação, domínio tecnológico, foco em negócios e clareza no relacionamento com o cliente. O “advogado 3.0” será valorizado por sua capacidade de atuar como consultor estratégico, mediador e articulador de soluções complexas — não apenas executor de tarefas jurídicas.
Já as faculdades de Direito começaram a se adaptar. Instituições de prestígio estão incluindo disciplinas sobre IA na grade curricular, com o objetivo de preparar alunos desde o início para esse novo panorama. O foco é instrumentalizar os futuros profissionais para que entendam e dominem essas ferramentas, transformando-as em aliadas no exercício da profissão.
No fim das contas, a inteligência artificial está redesenhando o mapa da advocacia: enquanto alguns são deixados para trás, outros despontam como protagonistas. A tecnologia não elimina o advogado — mas redefiniu o que significa ser um.