Lula (PT) deve encontrar um mercado instável em 2023. A expectativa era de que os juros começassem a cair em março, mas essa perspectiva mudou devido o quadro fiscal brasileiro. Além disso, outra preocupação é que a inflação, principalmente com relação aos serviços, está com uma maior resistência.
O Banco Central já vinha alertando, desde o começo de novembro, sobre essa preocupação. O principal discurso da instituição financeira é a ausência de um fiscal firme. O Comitê de Política Monetária (Copom) comentou, na época, que o Brasil não possui uma boa política fiscal, mesmo com o ministro da economia, Paulo Guedes, afirmando o contrário.
Inflação para 2023
Dessa forma, a expectativa é de que a inflação de serviços sofra um impacto de 35% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). “Com a política fiscal desancorada, será preciso mais juros para pressionar a inflação para baixo. A única coisa positiva, embora triste, é que o efeito negativo de uma política fiscal desancorada aparece muito rápido“, explicou a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).
Outra preocupação que vem mexendo com a inflação é as sinalizações de intervencionismo, como a mudança na Lei das Estatais que foi aprovada pela Câmara dos Deputados. A Lei proíbe que políticos que tenham atuado em instâncias decisórias de partido político ou campanha eleitoral nos últimos 30 dias antes da indicação ocupem o cargo.
Essa medida amplia as chances em aparelhamento das empresas públicas e, na avaliação de Matos, é uma indicação de que nem o mercado nem a sociedade vão permitir que erros do passado seja cometido outra vez. Ainda assim, o Senado Federal segurou o projeto.
O impacto na economia
O governo Bolsonaro (PL) sai deixando um rombo considerável nos cofres públicos, enquanto o novo governo Lula entra aprovando uma PEC que prevê despesas fora do teto de gastos. Dessa forma, a incerteza em relação a área fiscal segue crescendo, por isso, não é possível descartar que os juros terão uma alta no próximo ano.
O diretor de Crédito Multimercados da Rio Bravo, Evandro Bucccini, confirmou que a situação deve gerar impacto na economia. “Não é o cenário provável. Nossa projeção é de corte, mas boa parte do mercado fala em estabilidade dos juros ao longo do ano. Tudo vai depender do cenário doméstico”.
Tudo isso aponta para uma grande incerteza em 2023. O Banco Central não terá muito o que fazer senão aumentar os juros. Caberá ao novo governo trabalhar para que o mercado se acalme para que os juros possam abaixar.