Banco do Brasil pede “perdão ao povo negro” pela participação na escravidão
Após ser alvo de um inquérito do MPF por causa de sua ligação ao movimento escravagista no séc. 19, o Banco do Brasil emitiu um pedido de “perdão ao povo negro”
No último sábado (18), o Banco do Brasil divulgou um pedido de desculpas ao povo negro pelas ações de suas administrações anteriores que contribuíram para o processo de escravidão no Brasil durante o século 19. A instituição financeira reconheceu oficialmente seu envolvimento no comércio de negros escravizados por meio de uma declaração publicada em seu site.
Sendo uma das maiores e mais antigas instituições públicas do Brasil, o Banco do Brasil esteve diretamente vinculado a traficantes de escravos, com o capital investido em ações da instituição associado ao comércio de pessoas escravizadas. A prática incluía a concessão de crédito lastreado em propriedade escrava, utilizando o número de pessoas escravizadas como garantia para empréstimos.
Escravidão na história do Banco do Brasil
No mês de setembro, o Banco do Brasil passou a ser alvo de um inquérito do Ministério Público Federal devido ao seu envolvimento na escravidão de pessoas negras no Brasil durante o século 19. A abertura da investigação ocorreu em resposta a manifestações de professores e universitários, que afirmaram que o banco tinha vínculos com o tráfico de africanos e a prática da escravidão em sua diretoria e quadro de sócios naquele período.
A presidente Tarciana Medeiros, à frente da atual gestão do Banco do Brasil, emitiu um pedido de desculpas ao povo negro pelas ações realizadas por administrações anteriores da instituição. Tarciana, primeira mulher negra a presidir o banco fundado em 1808, destacou que toda a sociedade brasileira deveria se desculpar pelo papel desempenhado na dolorosa história da escravidão.

Pedido de perdão e reparações
O gesto de desculpas coincide com a divulgação de um conjunto de iniciativas adotadas pelo banco, visando promover a igualdade e inclusão étnico-racial, e, ao mesmo tempo, combater o racismo estrutural no país. Algumas das ações anunciadas incluem:
- Adição de cláusulas que promovam a diversidade nos contratos com fornecedores.
- Colaboração para inserir jovens que concluíram o programa Menor Aprendiz no mercado de trabalho.
- Realização de workshops dedicados à promoção da diversidade.
- Investimentos em pesquisas aplicadas à temática racial.
O Banco do Brasil antecipa que essas ações terão efeitos benéficos nas interações com clientes, colaboradores, parceiros e na sociedade em geral. A instituição reconhece que a diversidade em sua estrutura pode desempenhar um papel importante na promoção da inclusão financeira e na estimulação do emprego e da renda, especialmente para a comunidade negra.
Esse pedido de perdão foi considerado um momento histórico de grande relevância por Elias José Alfredo, do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, embora ele destaque que o debate também deve abordar a dívida do Estado brasileiro com o povo negro.